sábado, 11 de junho de 2011

Tic Tac


A nova concepção de tempo, em dias atuais, gerou uma sociedade regida pela hora e prisioneira do relógio
Escrito por Daniel Lopes


Foto: Leandro Medeiros (Lemed)

J
á reparou como sempre estamos atrasados ou com pressa de chegar a algum lugar? Uma dependência gradativa e que ao longo do tempo foi se intensificando em um hábito de sempre olhar no relógio ou perguntar a hora à alguém, principalmente nas cidades urbanas, mas nem sempre foi assim.

Antigamente, o tempo era representado pelos processos cíclicos da natureza, pela sucessão de dias e noites, pela passagem das estações. Os homens costumavam medir seu dia do amanhecer até o crepúsculo e os anos em termos de tempo de plantar e de colher, das folhas que caem e do gelo derretendo nos lagos e rios. O tempo era visto como um processo natural de mudança e os homens não se preocupavam em medi-lo com exatidão.

Aqueles poucos que se atentaram em medir o tempo com precisão, desenvolveram várias engenhocas, mas nenhuma tão eficaz quanto o Relógio.

Ele modificou o tempo, transformando-o de um processo natural em uma mercadoria que pode ser comprada, vendida e medida como um produto qualquer. E, pelo simples fato de que, se não houvesse um meio para marcar as horas com exatidão, o capitalismo industrial nunca poderia ter se desenvolvido, nem teria continuado a explorar os trabalhadores, fazendo valer a “mais-valia”. Esta máquina passa a alienar o funcionário mais do que qualquer outra.

A introdução dos relógios, fabricados em massa a partir de 1850, difundiu a preocupação com o tempo entre aqueles que antes se haviam limitado a reagir ao estímulo dos sinos das igrejas ou à sirene das fábricas. Nas missas, nas aulas, nos escritórios e nos encontros, a pontualidade passou a ser considerada como a maior das virtudes.

Hoje em dia, a hora está presente em diversos objetos, como os celulares, monitores, rádios, e até virou acessório de decoração e de beleza. Não há como não saber que horas são, estamos permeados por ela.

Essa busca em fragmentar cada atividade do nosso dia-a-dia gerou uma sociedade regida pelo tempo, com horários para cada tarefa. Refeições feitas às pressas, a disputa de todas as manhãs por um lugar nos trens e nos ônibus, a tensão de trabalhar obedecendo a prazos, administrando serviços, e até temporizando nosso momento de lazer e descanso. 

Deixar de ser escravo do relógio passa a ser uma questão de consciência e de auto-liberdade permitido por si mesmo. Gozar do tempo que achar necessário, fugir de todas as imposições, mas é claro, jamais esqueça de que horas são!

4 comentários:

  1. Obrigado Daniel Lopes...Pela colaboração...Texto muito bom! Se até citou "mais valia"...e o ano q começaram a aparecer os primeiros relógios comercializados em massa, pura "história da hora!"...

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  2. Muito boa a foto! Casou com o texto. Grandes parcerias!

    Abração.

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  3. Esse é o Daniel que eu conheço... fotógrafo, escritor e multi-meios.

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